
Em outubro de 1992, Sinéad O’Connor chocou o mundo ao rasgar uma foto do Papa João Paulo II durante uma apresentação no Saturday Night Live.
Ela cantava “War”, de Bob Marley, uma música que fala sobre desigualdade e opressão, quando, sem aviso, rasgou a imagem diante das câmeras, olhou diretamente para a lente e disse: “Lute contra o verdadeiro inimigo”. Depois, tirou os fones de ouvido e saiu do palco em silêncio. O ato gerou uma repercussão imediata, com críticas de todas as partes e praticamente um “cancelamento” à artista. Na época, o gesto foi condenado pelo público e por celebridades e grandes emissoras.
Sinéad já era conhecida por desafiar padrões da indústria e por sua postura crítica. O impacto do protesto no Saturday Night Live foi imediato: ela foi boicotada por rádios, teve shows cancelados, foi vaiada em apresentações públicas e sua imagem passou a ser associada ao acontecimento. Apesar disso, nunca voltou atrás.
Em entrevista ao The Guardian, em 2021, ela afirmou que aquele momento havia definido sua carreira de uma “maneira linda”, mesmo com todas as consequências.
“As pessoas dizem: ‘Você estragou sua carreira’, mas estão falando sobre a carreira que tinham em mente para mim”, comentou.
Com o tempo, a percepção do público mudou. A própria Igreja Católica reconheceu oficialmente os abusos cometidos por membros do clero e pediu desculpas em diversos países. A atitude de Sinéad passou a ser vista como corajosa e visionária. Morrissey, ex-líder do The Smiths, falou que ela teve a coragem de dizer o que muitos sabiam, mas preferiam ignorar. O gesto, que parecia ter enterrado sua carreira, acabou marcando Sinéad O’Connor como uma das artistas mais autênticas e engajadas da sua geração.