
Qual o disco difícil do seu artista predileto?
Em 1982, o cantor norte americano de rock Bruce Springsteen, surpreendeu sua gravadora ao apresentar o álbum Nebraska. Um trabalho todo acústico, gravado de forma caseira, no quarto da sua casa, bem diferente do tom que ele costumava fazer, que era um rock & roll bombástico.
O músico quis fazer um disco sem turnê para promovê-lo, sem sua foto na capa e sem nada de imprensa. Na visão dele, o disco estaria nas prateleiras com o mínimo de anúncio possível, para ser achado pelos seus fãs. E claro que a gravadora não sabia o que fazer.
Nebraska, no entanto, vendeu mais de um milhão de cópias e é um dos melhores trabalhos da discografia de Bruce Springsteen. O filme “Springsteen: Salve-me do Desconhecido”, que estreia hoje (30) nos cinemas, conta exatamente como o cantor, interpretado pelo Jeremy Allen White, peitou as gravadoras e lançou um dos seus principais álbuns.
Mas a questão de Bruce Springsteen é mais comum do que você pensa. Perguntamos aos maiores nomes do pop nacional sobre qual seria o “Nebraska” de suas carreiras. Vejam as respostas:
Dinho Ouro Preto (Capital Inicial)

“Sim, e mais de uma vez! A mais simbólica é o primeiro álbum do Capital (Inicial)! Na época estávamos na (gravadora) CBS, e ela não queria lançar o disco de jeito nenhum! E ficamos presos num pingue-pongue que levou o ano todo de 1985!
Pedimos pra sair e encontramos a (gravadora) PolyGram, com a ajuda do Marcelo Castelo Branco, diretor de marketing, e (o disco) vendeu quase 200 mil cópias em apenas três meses! Foi quase disco de platina! E é o álbum que tem Música Urbana, Fátima e vários clássicos do Capital!
A gente teve outro problema na (gravadora) BMG também,O disco era Eletricidade e nele tinha O Passageiro (cover de Iggy Pop) e Todas as Noites. As duas acabaram entrando no Acústico MTV e acabaram virando sucesso no Brasil inteiro! Aliás, o próprio Acústico MTV também. Mesmo com expectativas modestas, ficamos todos surpresos com o tamanho que tomou com um milhão de cópias! Então, sim, já passamos por vários Nebraskas (risos).”
Nasi (Ira!)

“Sem dúvida o nosso é o Psicoacústica. A música Advogado do Diabo foi gravada num porta estúdio, e eu e o André (Jung) ficamos ensaiando e produzindo, nós éramos os produtores! Nem todo o álbum é assim, mas a música Advogado do Diabo e mais outras músicas eram assim. Quando a gente foi mostrar isso pra gravadora, que fizemos até música sem refrão, foi difícil, (risos). Tudo bem que não ficamos na terceira parada brasileira (risos), mas hoje é o nosso disco mais cultuado.
Então, assim como o Bruce Springsteen se isolou numa cabana, nós, como banda, também nos isolamos num balcão na Barra Funda, entendeu? Não tinha diretor musical, não tinha ninguém, não tinha Peninha, Liminha, não tinha ninguém. Nós éramos os produtores.”
Supla

“O meu Nebraska foi o meu álbum Encoleirado! Meu primeiro disco pela (gravadora) EMI. O diretor artístico que tinha me assinado e acreditado no meu trabalho saiu da gravadora, aí eu fiquei a ver navios. Isso é normal acontecer (…) Realmente acredito que teria ido bem melhor se ele (o diretor artístico) tivesse ficado.”
Samuel Rosa (cantor e guitarrista)

“O Skank, teve uma coisa assim, eu não sei se semelhante, mas que também teve uma certa frustração de ambas as partes (risos). Foi exatamente com o Calango, por ironia do destino, que é o disco mais arrebatador do Skank. Porque Calango, foi aquele disco que alavancou a banda do quase anonimato! Teve aí cinco, seis hits na rádio, né? Jackie Tequila, Pacato Cidadão, É Proibido Fumar (…) É o disco que tem mais hits na história do Skank, talvez na história do pop rock nacional, né? Pegar um disco que tenha vendido e tocado tanto no rádio, sei lá, você vai encontrar mais uns dois ou três, na história do rock brasileiro.
E ele teve uma rejeição! Porque a gravadora ficou frustrada, e a gente ficou frustrado de saber que a gravadora não tinha gostado do disco. Foi uma coisa muito engraçada (risos)! Eu me lembro de uma frase do diretor da gravadora na época: ‘Eu não imagino um garoto de 10 anos ou 11 anos de idade cantando a letra de Jackie Tequila!’ Meses mais tarde, eu me lembro de entrar numa lan house, e me lembro de um menino cantando a letra inteira (risos)!”
Henrique Portugal (cantor e tecladista)

“O nosso primeiro disco, lançado pela (gravadora) Sony, fez sucesso. Mas não da maneira que a gravadora esperava. Quando apresentamos o segundo disco, Calango, eles achavam que faltava um hit. E esse é um disco que tem a música Pacato Cidadão, tem a música Jackie Tequila. É um álbum que praticamente metade dele tocou na rádio e fez muito sucesso. E é interessante porque a gente acreditava muito no Calango, que era extremamente moderno para época, totalmente conectado com a nossa geração. A gente bateu o pé, achou que o álbum estava pronto e a história depois confirmou isso.
Obviamente, a mesma gravadora que não acreditava que o Calango estava pronto, investiu para que ele se tornasse um sucesso. Porque um álbum não tem cinco sucessos à toa. Essas coisas acontecem em parceria. A gravadora viu que o disco começou a funcionar e ela continuou investindo no álbum, que vendeu quase um milhão e meio de cópias. Isso eu estou falando do ano de 1994!”
Paulo Miklos (cantor e ator)

“Bom, eu tenho vários ‘Nebraskas’, né?! (risos) Mas o Nebraska dos Titãs talvez seja o Tudo Ao Mesmo Tempo Agora. É um disco divertido e ruidoso! A gravadora lançou por lançar, mas não sabia como trabalhar uma coisa daquelas. Isso é o divertido da coisa!“
Lucas Silveira (Fresno)

“Estávamos na (gravadora) Sony, onde entramos para fazer um DVD ao vivo. Foi sucesso, e era natural que continuássemos com um álbum de inéditas. O disco, A Sinfonia de Tudo Que Há, acabou saindo independente. E nem mesmo entre os fãs foi unanimidade. Isso na época, pois hoje é considerado um clássico injustiçado pelo público da banda, que hoje celebra o disco como um dos mais importantes da nossa discografia.”
PJ (Jota Quest)

“Eu acho que não tem nenhum artista que não tem um disco que gravadoras não apostam muito. Porque as bandas, quando elas têm uma certa longevidade – imagina, o Jota Quest tem 30 anos de carreira ou mais! –, sabem que isso é normal acontecer dentro de uma gravadora (…) A gente passou por isso com o (disco) Funky Funky Boom Boom, que é um disco que a gente gravou muito bem gravado, muito bem produzido.
A gravadora, em período de transição, deu prioridade para as outras coisas. É um disco do qual eu tenho muito orgulho dele. O Pancadélico também. A gente ganhou a melhor música do ano no Prêmio Multishow em 2016. Eu acho que foi a última banda de pop rock, que ganhou um Prêmio Multishow de melhor música do ano. (…) são os discos dos quais eu tenho muito orgulho de ter feito“
Filme do Bruce Springsteen estreia hoje nos cinemas e conta a história de como, mesmo contra tudo e todos, acreditar em si mesmo vale a pena, assim como todos os nomes citados do rock acreditaram e fizeram sucessos com seus “Nebraskas”.
Veja o trailer do filme abaixo:





